Boa tarde, pessoal.
Relação do novo governo com as Forças Armadas! Esse é o tema que está na moda na atualidade. Sempre que a gente avalia, questiona, ou tenta entender o relacionamento entre duas partes, ou duas entidades, temos que levar em conta alguns fatores:
- Primeiro, a chamada “personalidade” de cada uma delas. Personalidade seria, neste caso, a maneira como cada uma encara o mundo em volta, como reage aos estímulos que recebe e qual a moral segundo ela se estruturou. Quais os valores nos quais ela acredita.
- Segundo, para que haja um relacionamento, subentende-se que as partes querem que isso aconteça, seja por amor, por necessidade ou por interesse.
- Terceiro é a sinergia. Todo relacionamento visa a sinergia, ou seja, as ações conjuntas vão trazer um resultado melhor do que se agissem por conta própria.
- O quarto é o respeito. Tem que entender a lógica segundo a qual a outra parte orienta suas atitudes, o que ela acha certo ou errado e o que considera “inegociável”, por contrariar seu quadro de valores.
No caso Lula x FFAA, ou melhor, Lula x Exército, o caso que estamos vivendo, esse relacionamento se assemelha ao do patrão com empregado. Do superior com o subordinado. O gerente, por exemplo, quer conseguir uma relação com os empregados na qual eles colaborem satisfeitos, sem criar problemas, para que o seu setor na empresa tenha a maior produtividade e o Diretor aumente o seu salário.
Já um comandante quer que os seus subordinados acreditem nele, tenham confiança e obedeçam sem pestanejar. É a chamada liderança. Se ele não conseguir liderar, estará arriscado a que os soldados saiam correndo no primeiro tiroteio e ele se veja sozinho, com a pistola na mão, na frente dos inimigos.
Não era para precisar existir um relacionamento direto do Lula com o Exército. Não é assim que a coisa funciona. Lula se relaciona com seus ministros como um gerente, fazendo um paralelo com o exemplo que foi dado, e o Ministro da Defesa tem que se relacionar com as três forças singulares como um comandante. Ele não pode passar a bola da solução das crises para Lula. Essa não é a função dos ministros de Estado. Temos um Ministro da Defesa tíbio, contemporizador e sem conhecimento das rotinas, problemas e necessidades das suas Forças. Não conhece o espírito militar da caserna, segundo o qual são moldadas as atitudes de seus subordinados e segundo o qual ele vai se impor a eles. Falar olhando nos olhos, em vez de discursar num deserto.
No caso que estamos vivendo, o receio do governo é que, se este “bom relacionamento” não for obtido, o poder militar resolva agir por conta própria e acabe se achando no direito de tomar o poder. Uma sucessão de crises, por exemplo, levaria a uma escalada, que poderia acirrar os ânimos a ponto de incentivar e respaldar uma aventura golpista. Obviamente esse cenário tem que ser afastado. E rápido! Isso tem que ser resolvido antes que as elites, e a mídia junto, percam o medo do desastre institucional que um golpe de Estado iria causar e das suas consequências sobre a estabilidade econômica, que é o que mais os assusta, porque mexe com os bolsos deles. A hora que o medo passar, vão voltar a satanizar Lula, como sempre fizeram. Aí vão voltar a namorar e bajular o poder militar. Militares de projeção na atualidade, como Villas Boas, Etchegoyem, Paulo Chagas, Santos Cruz, Fernando, Silva e Luna, por acaso todos eles meus amigos ou conhecidos, para citar apenas alguns, estariam prontos a levantar a bandeira da “Terceira Via Fardada”. Nem Bolsonaro nem Lula. Seria o mesmo “Brasil acima de tudo”, só que sem Bolsonaro. Seria o quarto turno, que ainda nem começou, mas, sem dúvida, um dia irá acontecer. Lula sabe disso. Daí a sua preocupação com esse “relacionamento”.
Então o segmento fardado tem que sair das mãos das elites e passar a ser parte indissociável do Estado. Elas integram o projeto de Estado, não um projeto de governo. Não podem ser transformadas, substituídas ou desativadas. Ao se ligarem às elites, se caracterizam como parceiras do projeto de governo que essas elites defendem. Simples assim. Se o Ministro da Defesa tem que ser civil ou militar, é um enfoque pontual que deveria ser irrelevante! Ao se estabelecer que o Ministro da Defesa TEM que ser um civil, automaticamente se estabelece que as Forças Armadas não fazem parte do Estado e que deverão atender àquele projeto de governo do momento. Continuarão politizadas, só que para o “outro lado”.
Acho que o momento político pede um Ministro da Defesa militar. Não precisa nem ser do Exército. Talvez até melhor que não fosse.
Obrigado.
Um abraço.
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