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Postagem 5 – Compra de Blindados

Boa tarde, minha gente.

O assunto hoje é compra de material bélico para o Exército.

Está sendo muito comentado o bloqueio, pelo Ministério Publico, da aquisição de blindados pelo Exército no “apagar das luzes” do governo que se despede. É um valor muito elevado e dá a entender que os militares querem garantir a compra antes que o governo mude e com ele mude o relacionamento do Presidente com as Forças Armadas. Essa compra a “toque de caixa”, como se diz no jargão militar, teria o interesse patriótico de garantir a modernização das nossas FFAA antes da mudança do governo.

Não é bem assim.

Em primeiro lugar esse governo que está se despedindo nunca fez efetivamente nada pelo segmento militar, além, é claro, de politizá-lo e fanatizá-lo. Nenhum projeto de vulto para reequipar suas forças militares foi implementado. O movimento patrocinado pela Bancada da Bala, ou seja, a liberação da venda indiscriminada de armas para a população, só beneficiou e eles mesmos, os fabricantes de armamento comercial e não agregou nenhuma tecnologia nova à nossa indústria de armamento.

O governo atual jamais se preocupou com a modernização das FFAA. Um exemplo é a redução da quantidade contratada pela Força Aérea para aquisição dos cargueiros C-390 Millenium da EMBRAER. O Comandante da Força Aérea alterou unilateralmente o contrato para salvar dinheiro para a campanha de reeleição do presidente. Esse golpe baixo prejudicou perigosamente a saúde financeira da EMBRAER, que é o orgulho da tecnologia nacional.

Vamos então à verdadeira razão para essa pressa toda do Exercito em fechar essa compra. Vamos voltar ao passado. Em novembro de 2006, quando o governo Lula direcionou verbas para as FFAA, provavelmente na intenção de aproximar-se dos militares, foi aberto um processo seletivo para empresas interessadas em produzir um novo blindado para o Exército, que seria destinado a substituir os Urutu, feitos pela Engesa, que já tinham quase 40 anos de uso.

A Fiat, fábrica de veículos e caminhões leves no Brasil que todos conhecem, apresentou o orçamento mais baixo. Foi escolhida (escolha, não licitação) e fechou contrato para projetar um novo veículo, ao preço de R$ 32 milhões. O protótipo deveria a ser entregue em março de 2010. Se o modelo fosse aprovado, a montadora produziria mais 16 unidades, o que seria o chamado de “lote-piloto”. O Exército acertou um período de teste desse lote que iria até novembro de 2011. Depois viria a aquisição, caso os requisitos desejados fossem atendidos, ou seja, se o material funcionasse conforme o previsto nas condições reais de uso. Esta seria a avaliação final. Só então produto seria aprovado definitivamente.

Subitamente o Exercito resolveu antecipar tudo, queimar todas essas etapas. Em dezembro de 2009, quando nem sequer o protótipo havia sido entregue, os militares acertaram com a Iveco a compra de 2.044 blindados por R$ 5,4 bilhões, que seriam entregues ao longo de 18 anos.

Uma quantidade no mínimo absurda, para um país que não está às voltas com nenhuma ameaça externa de vulto. Para se ter uma ideia, a Engesa, que produziu os Urutús de 1974 até 1990, durante quase 20 anos, entregou apenas 223 veículos ao Exército e Marinha nesse período. Eles foram utilizados por 40 anos sem precisar repor ou aumentar a quantidade.  Por que 2044?

Ou seja, nossos companheiros do Exército assinaram um contrato bilionário e sem licitação, para comprar milhares de exemplares de um veículo militar que sequer havia sido testado. Nem o protótipo havia sido entregue quando o contrato foi assinado.

Foto da assinatura – Aí a foto da assinatura: General Enzo Martins Peri, então Comandante do Exército, gestão Nelson Jobim no MD. Governo Lula. General Enzo foi recentemente convidado para integrar a equipe de transição na área de Defesa, 2022, mas recusou.

Posteriormente, em 2013, os gestores militares da época perceberam o absurdo e tentaram reduzir a compra de 2.044 para 1200 veículos. Após muita negociação, rescindiram o contrato original e assinam um novo, em 22 de novembro de 2016. Só que pagando mais caro, para receber muito menos veículos. Em vez de pagar 5,4 bilhões por 2044 veículos, pagaram 5,9 bilhões por 1580. Qualquer um percebe que seria melhor receber mais blindados por um preço menor e depois ver o que fazer com os que sobraram: revender para o exterior, doar para as polícias, guardar para aproveitamento de peças, derreter, qualquer coisa, menos pagar mais por menos. Nessa época, final de 2016, já vivíamos o governo Temer.

Agora vejam essa compra no que deu: o Guarani, este foi o nome que recebeu, pesa 17 toneladas. Muito mais do que as 11 toneladas do Urutu, que ele substituiu, ou seja, não vai ser qualquer ponte que ele vai passar. Além disso tem uma silhueta exagerada e absolutamente contraindicada para as operações de combate e não conseguiu navegar como era exigido no contrato. Afunda. E mais. Como é pesado e alto, capota por qualquer distração do motorista: – Série de Imagens –

08 de junho de 2015 – capota na volta da exposição em Toledo, Paraná, ao desviar de um veículo que vinha no sentido contrário;

12 de fevereiro de 2017, em Vila Velha, Espírito Santo – batida em carro particular;

13 de agosto de 2018, em Bela Vista, MS – capotagem em estrada e destruição do guincho de resgate. O filme do resgate desastrado viralizou nas redes sociais;

29 de outubro de 2018, retornando do CI de Saicã, RS, para Foz do Iguaçú, capotou em uma curva;

23 de maio de 2020, capota em Apucarana, PR ao desviar de carro;

26 de agosto de 2020, capota em treinamento de motoristas no Autódromo de Cascavel;

29 de setembro de 2021, blindado naufraga, afundando próximo ao Iate Clube de Foz do Iguaçú, durante teste de flutuabilidade.

Realmente, chega às raias do ridículo.

Ainda em 2013 o Exercito autorizou o estudo para aquisição de um novo material, desta vez um blindado mais leve. – Imagem do carro – Como consequência, em 2019, já no governo Bolsonaro, o Exército declara a Iveco novamente a vencedora para o fornecimento do VBMT-LR (viatura blindada multitarefa leve – sobre rodas), a ser fabricado na Itália inicialmente. – Imagem da assinatura do contrato – Ou seja: dizer que vai prestigiar a indústria nacional é uma falácia. Na concorrência foi desclassificada a Avibrás, fabricante do Sistema Astros de Foguetes de Artilharia, empresa totalmente nacional. Um veículo simples como esse poderia ser produzido por qualquer fabricante nacional.

Agora assistimos à tentativa de compra do Centauro, também da Iveco e, novamente, sem licitação e sem testes. Óbvio que tem um lobby fortíssimo por trás disso tudo. O Centauro está sendo comprado  para substituir o Cascavel da Engesa nas unidades de Cavalaria Mecanizada. Pelo menos este é o pretexto. Para isso não serve, pelas seguintes razões: – Imagem do Centauro –

  1. É um “caça-carros”. Caça-carros é um canhão que fica à retaguarda da tropa, atirando de longe nos blindados inimigos, montado em cima do chassis de um veículo de transporte. Não serve como um veículo blindado de reconhecimento, que tem que ir à frente da tropa para descobrir onde está o inimigo. Esse é o escopo dessa aquisição: um veículo de reconhecimento;
  2. Pesa 30 toneladas, em comparação com as 9 toneladas do Cascavel. No TO sul-americano só vai passar em ponte de autoestrada. Foi feito para andar devagar e ficar na retaguarda. Não vai reconhecer nada;
  3. O Cascavel, mais de 800 unidades fabricadas e utilizado em mais de 22 países, foi testado em combate na África e Oriente Médio. Sua manutenção é facílima e barata, até mesmo para os Exércitos rebeldes africanos que o utilizaram;
  4. Ele pode perfeitamente ser refabricado em uma versão estado da arte pela indústria nacional e aí atender ao requisito básico de priorizar a tecnologia brasileira;
  5. Dizer que a Iveco vai gerar tecnologia e empregos é uma falácia, já que no máximo contratarão seguranças, faxineiros e cozinheiros para as suas fábricas, em vez de técnicos, engenheiros, executivos e empreendedores brasileiros;
  6. Canhão de 120 mm, inadequado para o fim que está sendo comprado. Não se presta ao reconhecimento pelo fogo. Calibre superior ao dos nossos carros de combate. Munição cara e importada;
  7. Vai sair mais caro que o carro de combate mais moderno do mundo, o M-1 Abrams, norte-americano;

 

Óbvio que os encarregados dessa nova e milionária aquisição aceitaram o material oferecido pelos italianos sem pestanejar. O importante era comprar logo para, provavelmente, participar das benesses oferecidas. Desculpe, mas muita inocência é sinônimo de burrice ou conivência. Quem chega a general pode ser tudo, menos inocente ou burro.

Vamos ver qual solução o novo governo vai apresentar para o problema. Irão acreditar no conhecimento técnico e tático dos compradores fardados? Vão cancelar todas as aquisições de material bélico durante o próximo governo? Vão reavaliar o programa? Com um Ministro da Defesa civil, o mais provável é que ele coma pela mão dos seus subordinados, com medo de perder o apoio. Só que eu nunca vi um comandante precisar de apoio de subordinado. Quem comanda precisa é de obediência. Eu mando, eles obedecem, já disse Ciro Gomes…

O mais provável é que a maracutaia continue, talvez um pouco mais cara para os italianos, já que precisarão “convencer” os novos protagonistas. Vamos torcer para que a Gleisi Hofmann, que denunciou a compra, não entre na panela também.

Aos meus amigos fardados, poderia dizer que não existe patriotismo em esconder os erros dos companheiros para manter limpa a imagem da Instituição. Ser patriota é lutar para corrigir os erros, isso sim. Corrigir, não esconder. Amizade subentende confiança, lealdade e respeito. Não quer dizer conivência.

Aquisição de material bélico (MEM) é politica de Estado e não politica de governo. As FFAA são previstas na CF e não podem ser sucateadas por nenhum governo. Os programas de modernização devem ser mantidos. Mas isso não pode significar uma autorização para as maracutaias. Cabe aos integrantes das FFAA se fazerem respeitar e ganharem credibilidade, para poderem exigir dos governantes o material que a Instituição realmente necessita. Imagem do endereço

Entender e praticar essa postura é que é patriotismo.

Muito obrigado a todos, mais uma vez. Não se esqueçam de colocar seus comentários no site da editora. Participar sempre é muito importante. Um forte abraço!

Rodrigo Utopia

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